terça-feira, 24 de novembro de 2009

Acessibilidade Digital e Pessoas com Deficiências Cognitivas.

Reflexão sobre softwares "especiais".

Teófilo Galvão escreve sobre os motivos pelos quais considera que não exista softwares específicos para pessoas com Síndrome de Down.

Acessibilidade em Softwares para Desenvolvimento Cognitivo.


Não creio que exista ou seja possível criar um software para o desenvolvimento cognitivo específico de pessoas com síndrome de Down ou, especificamente, para qualquer outro tipo de deficiência (excetuando-se, portanto, os softwares de acessibilidade, simuladores de teclado, de mouse, etc., que obviamente são muito úteis). E isso por diversas razões.

Primeiramente, por que falar do desenvolvimento cognitivo de pessoas com síndrome de Down é falar de um horizonte muito amplo, é falar de uma população muito heterogênea, é falar de perspectivas, necessidades e potencialidades muito diferenciadas dentro da mesma população. O desconhecimento desse fato leva ao risco de que se caia em generalizações ou padronizações simplistas e irreais, quando se faz referência ao trabalho com pessoas com uma determinada deficiência. Sendo assim, essa constatação deve levar a diferentes perguntas: deseja-se construir um software para pessoas com síndrome de Down com que idade cronológica, ou com que outro "tipo" de idade, com que potencial de concentração e abstração, com que capacidade de interação e comunicação verbal, com que conhecimentos anteriores, ou com que... etc, etc.???

Em segundo lugar, creio que o fato de uma pessoa ser portadora de síndrome de Down não faz com que essa pessoa possua características de desenvolvimento cognitivo únicas e particulares a sua deficiência. Ela não tem um cérebro e uma forma de pensar diferente das outras pessoas. Sua estrutura mental, sua forma de aprender, são as mesmas de qualquer outra pessoa. Obviamente, que não estou negando aqui as limitações intrínsecas à deficiência. Sabe-se que uma pessoa com síndrome de Down tem limitações, possivelmente em sua capacidade de abstração e certamente na velocidade com que aprende, principalmente se comparada com outras pessoas de sua idade. Mas isso não faz com que essa pessoa possua uma estrutura mental diferente, nem que aprenda a partir de um processo diferenciado em relação a outras pessoas.

Portanto, sendo isso verdadeiro, qual deveria ser a diferença entre um software educacional ("aberto" ou "fechado") utilizado por uma criança sem síndrome de Down, na educação infantil, por exemplo, e um software educacional utilizado por uma pessoa com síndrome de Down que estivesse em seu processo de desenvolvimento cognitivo nessa mesma etapa, com essas mesmas necessidades da criança na educação infantil?...

A meu ver, não haveria nenhuma diferença entre esses softwares. Então, creio que os softwares que devem ser utilizados por pessoas com síndrome de Down são os mesmos softwares utilizados por qualquer outra pessoa, obviamente que avaliando-se (anteriormente e durante o processo, também com qualquer pessoa) as suas características e necessidades específicas (capacidade de concentração, abstração, motivação, conhecimentos anteriores, etc, etc), utilizando para isso os diferentes referenciais teóricos disponíveis (Vygotsky, Piaget, Paulo Freire, etc).

Portanto, penso que um software que vc desenvolva para uma criança com síndrome de Down, vai servir igualmente para outras crianças sem síndrome de Down, que estejam na mesma etapa em seu processo de desenvolvimento cognitivo, ou vice-versa.

Teófilo Galvão

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